26 de Novembro de 2021
Os benefícios e os riscos do exercício físico
A prática de exercício físico é altamente recomendável em qualquer idade pelos seus inúmeros benefícios para a saúde, mas não é isenta de riscos. Os exames médico-desportivos são um instrumento fundamental para aferir a aptidão ou inaptidão dos praticantes e representam um importante meio para identificar potenciais riscosA inatividade física é considerada um dos principais fatores de risco para as doenças crónicas não transmissíveis, por isso, é indiscutível que qualquer atividade física regular, até mesmo uma simples caminhada, tem benefícios para a saúde. A frequência, duração, intensidade e o tipo de desporto que se deve praticar depende da faixa etária e da condição de saúde de cada pessoa, mas a verdade é que se trata de um hábito promotor da saúde em indivíduos de qualquer idade. “Medicamente falando, o desporto é na realidade o recurso terapêutico que os médicos têm ao seu dispor com mais benefícios na saúde física e mental para os seus utentes. É mais barato, acessível e isento de efeitos adversos do que qualquer medicamento”, defende Bernardo Pessoa, coordenador do serviço de Medicina Desportiva do Hospital de Loulé. Mesmo que não tenha como finalidade a prática federada, a avaliação médico-desportiva “é uma excelente oportunidade para verificar o estado de saúde da pessoa” e tratar atempadamente eventuais patologias, delineando procedimentos futuros para uma vida mais saudável. Esta avaliação torna-se especialmente importante no que toca às pessoas a quem Bernardo Pessoa apelida de “guerreiros de fim de semana”, que normalmente têm uma vida sedentária durante a semana e ao fim de semana “submetem o organismo a um esforço a que não está habituado”.
ENTREVISTA
O coordenador do serviço de Medicina Desportiva do Hospital de Loulé, Bernardo Pessoa, fala à be healthy sobre a importância dos exames físicos para identificar e prevenir problemas de saúde, assim como dos principais erros cometidos pelos atletas.
Qual a importância da realização de exames físicos para quem pratica desporto regularmente?
Antes do atleta, temos perante nós um indivíduo que deve ser avaliado quanto à sua saúde numa perspetiva integral e não só desportiva. Estes exames adquirem uma faceta especialmente importante porque, geralmente, se dirigem a uma faixa etária jovem, o que permite ao especialista intervir na saúde e nos estilos de vida das crianças e adolescentes.
No que consistem os exames físicos, quais são os parâmetros avaliados?
O exame médico visa identificar potenciais condições que possam condicionar a prática desportiva. O exame consiste, numa primeira parte, na realização de um questionário que identifica os antecedentes médicos pessoais ou familiares que possam predispor a um risco de saúde. De seguida, é feito um exame físico dirigido a aspetos gerais da saúde do atleta e específicos, consoante a modalidade desportiva.
Em geral, quais são os erros mais comuns entre os desportistas?
O atleta de competição é um indivíduo altamente motivado e disciplinado, no entanto, coloca muitas vezes o organismo em risco. Outro estereótipo de atleta é aquele que começa a prática de desportos de alta intensidade e que, mesmo não sendo federado, deve submeter-se a uma avaliação médica breve. Por último, temos o “guerreiro de fim de semana”, que é o adulto sedentário e que nos jogos de futebol ou corridas de fim de semana expõe o coração, articulações e músculos a um stress para o qual não está treinado. Nestes casos, o desporto é mais prejudicial do que benéfico.
Qual a frequência ideal para a prática desportiva? Deve ser intervalada, para os músculos poderem “descansar”?
A prática desportiva deve ser encarada como uma ferramenta terapêutica, pelo que deverá ser individualizada. Não só a frequência, como a natureza do desporto, devem ser aconselhadas e acompanhadas. Por isso, sim, devemos equilibrar individualmente as horas de esforço físico com o período de recuperação.
Quais as lesões mais habituais nos desportos de alto impacto e que cuidados se deve ter?
O desporto não é isento de risco, quer pela exposição a fatores ambientais, quer por traumatismos ou uso excessivo de determinadas partes do corpo. Enquanto médicos promotores da saúde individual, procuramos minimizar estes riscos pela diversidade desportiva, especialmente nas crianças. A Sociedade Europeia de Medicina Desportiva recomenda que as crianças não se híper especializem num só desporto até à idade adulta.
Qual a importância de adequar a alimentação aos períodos antes e pós-treino? Que alimentos podem ajudar na recuperação?
A alimentação é um dos pilares fundamentais não só da performance desportiva, como da saúde individual. E, por essa razão, o regime alimentar não deve seguir modas ou conselhos levianos. As necessidades individuais relativamente aos macro e micronutrientes é altamente variável, baseada nos objetivos desportivos e pessoais. Nos períodos antes e pós treino, existem demasiadas variáveis em questão para termos receitas universais.
Riscos dos suplementos alimentares no desporto
Numa era em que se procuram alcançar resultados cada vez mais rápidos ao nível da transformação física, a toma de suplementos alimentares já se tornou, para muitos desportistas, numa rotina diária. Contudo, como alerta Bernardo Pessoa, o uso incorreto destes suplementos de venda livre pode acarretar riscos para a saúde. “A suplementação alimentar é uma indústria, infelizmente, pouco regulamentada em termos de qualidade e distribuição no mercado. Por essa razão, a contaminação destes produtos com substâncias não só tóxicas, como dopantes, é uma realidade ainda pouco conhecida pelos consumidores”, esclarece o especialista. Apesar de defender que as necessidades proteicas de um atleta podem e devem ser atingidas através da alimentação, o especialista aconselha a procurar produtos certificados, que apresentem um selo de garantida de qualidade. Para Bernardo Pessoa, a indústria dos suplementos “é uma indústria pela qual se criam necessidades que, na realidade, raramente se verificam.